Para baixo e avante


SETE MIL LÉGUAS: Representação de como será
o Triton 3600 em seus rolês pelos oceanos

Novos submarinos com ares futuristas prometem levar tripulações endinheiradas aos locais mais profundos dos oceanos

Por Anna McCarthy

ERA UM PERFEITO dia de primavera na baía de San Francisco, na Califórnia (EUA), mas Chris Welsh, um velejador profissional fortão de 48 anos, encontrava-se confinado em uma sala mal-iluminada, trabalhando em um submarino com lugar para uma só pessoa cujo exterior parecia um planador quadrado com asinhas atrofiadas. A oficina, que fica empoleirada sobre um cais em Point Richmond, é a sede da Hawkes Ocean Technologies. A embarcação, chamada de Virgin Oceanic, é o resultado da colaboração entre Chris (que será o piloto do submarino), o engenheiro britânico Graham Hawkes e sir Richard Branson, o bilionário dono do conglomerado Virgin. Todos eles têm grandes – ou melhor, profundas – esperanças que esse projeto dê certo.
“Meu submergível não foi projetado para atingir grandes velocidades”, explica Chris. “Ele foi feito para ir bem fundo.” Mais especificamente, o Virgin Oceanic foi projetado para atingir 11 mil metros de profundidade – o ponto mais fundo do oceano. E Chris não é o único tentando realizar a proeza.

Neste verão do hemisfério Norte, três tripulações estão em missões distintas focadas em conseguir o próximo grande avanço na exploração dos oceanos: um submarino tripulado que possa passear pela Fossa das Marianas, o local mais profundo da Terra. Além da equipe Virgin de Chris Welsh, o diretor do filme Avatar, James Cameron, está financiando um submergível semelhante e a Triton Submarines, com sede na Flórida, tenta produzir um modelo comercial, o Triton 36000, que poderia levar passageiros à fronteira final do planeta por até US$ 250 mil por cabeça.

A Fossa das Marianas já foi visitada por uma tripulação humana, mas não depois de 1960. Naquele ano, o oceanógrafo e engenheiro James Piccard e o tenente da Marinha norte-americana Don Walsh chegaram até o fundo da fossa dentro de uma bolha de aço de 150 toneladas feita por eles e batizada de Trieste. Talvez por ser o único homem vivo a já ter estado lá, Don, hoje com 79 anos e presidente honorário do Clube dos Exploradores, com sede em Nova York, não vê razão para esse alvoroço todo. “Normalmente, quando há uma corrida, costuma haver algum tipo de prêmio”, diz ele, com ar de desprezo. “O que eles vão ganhar com isso? O direito de terem chegado em segundo lugar?”


QUEM PODE PODE: Sir Richard Bronson (dir.) a Chris Welsh ao lado do Virgin Ocean

do Trieste quanto um avião de caça de um balão de ar quente. O Trieste operava do mesmo jeito que a maioria dos submergíveis de águas profundas: carregado com lastros que seriam ejetados mais tarde e equipado com dispositivos de flutuação, ele se movia basicamente em duas direções – para baixo e, depois, de volta para cima. Embora a geringonça tivesse propulsores para movimentos horizontais, James e Don passaram seus 20 minutos no fundo da fossa em um único lugar, cercados pela nuvem de detritos levantada por seu próprio submarino ao tocar o fundo. Depois emergiram com uma rachadura no vidro de uma escotilha. A próxima geração de exploradores espera poder dar uma boa olhada em volta antes de retornar para cima.

EMBORA NÃO HAJA uma única grande descoberta tecnológica motivando esse novo interesse na exploração das Marianas, uma série de pequenos avanços – incluindo uma espuma resistente a pressão, baterias de lítio ultraleves e portinholas de cerâmica duríssima – levaram os três grupos à mesma conclusão: estamos na iminência de criar submarinos que podem fazer viagens regulares às profundezas.

Isso, é claro, se tudo correr de acordo com os planos. Qualquer errinho mínimo de engenharia pode ter horríveis conseqüências em pressões que chegam a 16.000 psi, o equivalente a 1.125 kg/cm2. Durante os testes em laboratório, por exemplo, a bolha de observação feita de borossilicato do Virgin Oceanic rachou perto dos 2.200 psi. Graham Hawkes diz que conseguiu resolver esse problema. Ainda assim, um defeito no fundo do oceano pode significar morte instantânea.

Um cara disposto a assumir esse risco é James Cameron. “Meu plano é pilotar pessoalmente o submarino em alguns mergulhos”, diz ele. “Teremos múltiplas câmeras 3-D de alta definição, um sistema de iluminação gigante, um braço mecânico para retirar até 25 quilos de amostras… Levaremos um pequeno veículo de controle remoto, como os que usamos para explorar o Titanic e o Bismarck, que pode ser lançado do submarino.”

O terceiro grupo na caçada, uma empresa particular da Flórida chamada Triton, não é comandada por ninguém famoso. Mas seu fundador, um empresário de 55 anos chamado Bruce Jones, espera fazer dinheiro em cima da competição com Richard Branson e James Cameron. O material de marketing da Triton chama isso tudo de “a corrida para o espaço interior!”.

Quem vai chegar lá primeiro? “Com certeza Chris Welsh e Richard Branson”, admite James Cameron. Chris e sua equipe pretendem fazer o primeiro teste na água do Virgin Oceanic, que custou cerca de US$ 10 milhões, neste verão do hemisfério Norte, já agora em agosto.

Graham Hawkes, 63, começou a trabalhar em seu submarino Challenger em 2003. O aventureiro Steve Fossett encomendara um veículo para descer até a fossa, mas morreu na queda de um avião em 2007, antes de poder realizar seu sonho. Dois anos atrás, Chris, que enriqueceu com imóveis, ficou sabendo sobre o submarino de Steve Fossett quando visitou a propriedade dele para comprar seu catamarã de corrida de 125 pés, o Cheyenne. Depois de adquirir as duas embarcações, Chris se juntou a Graham e Richard para tentar reduzir as despesas para concluir o submarino. Agora incrementado, o Virgin Oceanic promete descer às mais profundas fossas do mundo, lançado do deque do Cheyenne.

A Triton tem um objetivo diferente. Seu presidente, Bruce Jones, imagina uma embarcação confortável e prática que levará um piloto e dois passageiros até o fundo do mar à impressionante velocidade de 100 metros por minuto. O Triton 36000, que a empresa planeja produzir e vender por cerca de US$ 15 milhões a unidade, é essencialmente uma bola de gude oca de 2,15 metros de diâmetro. Segundo Bill Raggio, engenheiro-chefe da companhia de vidros Rayotek, que projetou o casco do Triton, esferas de vidro ficam mais fortes em vez de se quebrarem quando submetidas a uma grande pressão – e, é claro, oferecem uma vista muito melhor.

Há um porém: o submarino da Triton ainda não foi construído. “Estamos falando com vários clientes iniciais porque, sendo franco, não temos o dinheiro necessário para construí-lo segundo as especificações”, admite Bruce, acrescentando que acredita que ainda levarão mais de um ano até o primeiro mergulho.


DE CINEMA: O director e agora explorador James Cameron

A GRANDE INCÓGNITA nessa corrida é, na verdade, James Cameron, que tem estado relativamente quieto sobre seus planos até agora. Seu projeto começou em 2003 com alguns esboços, mas não ganhou impulso até 2005, quando o diretor de cinema fez uma de suas visitas ao Titanic, afundado a 3.800 metros abaixo da superfície do Atlântico Norte. Com ele, estava Ronnie Allum, o engenheiro australiano que agora comanda a equipe Deep Challenge de James (o diretor ainda não revelou o nome do seu submarino.)

O projeto Deep Challenge está, segundo as notícias, a caminho, e a cabine do submarino já foi testada a pressões de 16.000 psi no laboratório da Universidade da Penn State, na Pensilvânia. “Foi aprovada com louvores. O casco se comportou exatamente como esperado”, conta James. O submarino está agora na fase de montagem, com mais de duas dúzias de pessoas trabalhando nele. Os testes no mar estão marcados para abril de 2012.

Cameron diz que qualquer imagem que ele filmar não fará parte de seus filmes. “Entretanto, se eu vir algum animal com cara de alien, ele pode acabar em alguma continuação de Avatar…” James Cameron não é apenas uma celebridade querendo se divertir: ele tem décadas de experiência em explorações científicas que inclui os documentários Criaturas das Profundezas e Fantasmas do Abismo. Entre outros objetivos da pesquisa, ele espera que o submarino da Deep Challenge possa visitar a falha oceânica que causou o recente tsunami no Japão. “Nosso papel é explorar, imaginar e trazer de volta os fatos científicos, e não quebrar recordes.”

Quando visitei a oficina de submarinos de Graham Hawkes no início de maio, Chris disse que estava “a cerca de duas semanas” de levar o Virgin Oceanic para uma volta de teste. Mas ele deixou bem claro que não faria nada prematuramente. Cameron parece não ter pressa também. “Estou falando com Chris sobre como podemos cooperar um com o outro”, diz. “Eu adoraria filmá-lo flutuando a 11 mil metros de profundidade. Isso não seria o máximo?”

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2011)







Acompanhe o Rocky Mountain Games Pedra Grande 2024 ao vivo